Tecnologia na Literatura

11/10/2011 00:21

Até onde irá o livro impresso frente aos avanços da tecnologia e a disseminação dos e-books

(Por Andrio JR Santos)

 

 

Há muito esta polêmica vem sendo trazida à tona. Frente às novas tecnologias relacionadas à leitura, além dos computadores (note e netbooks) portáteis, há também os smartphones, tablets e o kindle,  somado à disseminação dos livros em formatos digitais e ao baixo custo de produção, o livro impresso está mesmo ameaçado de extinção?

A disseminação de livros em formato digital (e-books) tem crescido na internet e vê-se um crescimento arrasador na maneira de disponibilizá-los — seja de forma legal ou pirata. Nos Estados Unidos, o cenário é preocupante. A Barnes & Noble, maior rede do país, enfrenta queda nas vendas nos últimos dois anos. A condição da Borders, a segunda colocada, é ainda pior: com prejuízos insustentáveis, pediu concordata e terá de fechar pelo menos um terço de suas lojas.

No Brasil, no entanto, a situação é diferente. Um levantamento da Associação Nacional das Livrarias (ANL) comprova: o setor cresceu em 2010 em comparação com 2009.

O índice de leitura no Brasil aumentou 150% na última década, passando de 1,8 livros por ano para 4,7. É o que revela pesquisa feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido da Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e divulgada em 2010. Apesar do aumento significativo, o número ainda é bem pequeno se comparado ao de outros países - um levantamento das Nações Unidas sobre leitura e compreensão de textos colocou o  Brasil  na 47ª posição entre as 52 nações pesquisadas.

 

 

Dentro da polêmica sobre a “sobrevivência” do livro nas prateleiras das livrarias frente às novas tecnologias, que, além da praticidade, oferecem um espaço praticamente ilimitado para armazenamento de dados, procuramos Rozélia Rasia, presidente da Alpas XXI (Associação Artística e Literária 'A Palavra do Século XX’) de Cruz Alta:

“Atualmente a oferta e a aceitação dos livros em multimídias crescem vertiginosamente para determinado público, enquanto outros preferem as páginas em papel. Talvez, as editoras encontrem formatos e aspectos diferenciados para o livro impresso e, principalmente, alternativas que possam tornar o preço mais acessível. A ALPAS XXI já editou 15 coletâneas coletivas e mais de cem livros individuais impressos e alguns e-books”, coloca Rozélia Rasia.

“A abrangência da divulgação do livro no universo virtual traz benefícios para a construção de saberes e troca de experiências entre autores e leitores em todos os países. A ALPAS XXI, como partícipe do interassociativismo universal, procura aproximar leitores, estudantes, professores, escritores e editores, independentemente da mídia em que os textos são apresentados. Desde 2000, disponibilizamos espaços virtuais para publicações de poesias, contos e crônicas e orientamos os autores sobre os direitos autorais”, destaca ainda.

E voltando a direção para os autores profissionais, questionamos Henrique Madeira, autor do livro A Cinza Lívida publicado em 2010 pela editora Biblioteca 24 Horas:

Travessias Online (T.O.): Como escritor profissional, de que forma você vê isso, qual sua opinião quanto a essa questão?

Henrique Madeira (H.M.): Assinei contrato com a Editora Biblioteca 24h de São Paulo, SP, há menos de um ano. Não tenho muita experiência no assunto, mas creio que há tanta falácia e redundância que esquecem o principal: a meu ver, o grande problema é o público não ter acesso a livros em mídia alguma. Quanto mais a tecnologia puder amparar a leitura, melhor. O e-book, por exemplo, que muitos escritores condenam por não receberem a cota de ‘Direitos Autorais’, é uma forma fantástica dos leitores conhecerem novos escritores. Ninguém compra livro de escritores novos às cegas. Precisam de informações ou até mesmo ler algumas páginas de graça na internet para avaliar se vale à pena, pois o preço do livro, atualmente, (em média de R$ 40,00) não acompanha a realidade econômica brasileira. Com certeza, aquele leitor que baixar um livro de graça, e gostar da obra, um dia irá adquirir a obra impressa. Isso é fato. Nunca, jamais o livro (como mídia) passará a ser totalmente digital. É uma qualidade inerente ao ser humano o tatear, o produto palpável. Quando gostamos de um livro, criamos uma ‘afeição’ que exige o ‘corpo presente’ do objeto amado. Ninguém se contenta apenas com namoro à distância. Tem que haver o contato físico, não é mesmo?”

T.O.: E que problemas isso pode acarretar sobre leitores e escritores, e que vantagens?

H.M.: Penso que não acarreta problema algum. Quem gosta de ler através de algum tipo de mídia eletrônica, que o leia. O importante, o cerne da questão, é ler. A maioria dos escritores é bem resolvida quanto a isso. Os livros digitais são uma ferramenta importante para estimular a leitura e, principalmente, fazer com que o leitor tenha contato com escritores novos. As grandes discussões partem mesmo é das editoras que pensam que cada download de um livro representa (30 ou 40 reais) perdidos no caixa. Fico feliz em saber que, quem não tem dinheiro, tem, ao menos, a oportunidade de baixar livros pela internet. Quando as condições dessa pessoa permitir, elas procurarão a versão impressa nas livrarias, pois, ninguém tem orgulho de falar sobre o livro que está lendo no computador, ou mostra para os amigos sua coleção de livros virtuais. Ou será que alguém daria de presente um livro em PDF?

Sonora Ponto do Livro (mp3)

 

É demagogia, falta de visão e, principalmente, pretensão demais, acreditar que os livros impressos serão substituídos. Da mesma forma que o sexo tradicional jamais será substituído pelo virtual. Como nos referimos antes, o ser humano necessita estar perto do objeto desejado, manuseá-lo e apreciá-lo com os cinco sentidos sensoriais que temos disponíveis. Esta é a nossa natureza embrionária, portanto, um processo imutável.

Saiba mais sobre o trabalho de Henrique Madeira aqui.